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A morte a imagem...
A morte a imagem...


"Suportar toda aquela dor, literalmente queimar minha carne só para fazer com que meus cabelos ficassem parecendo com os de um branco. Eu me juntava à multidão de homens e mulheres negras que sofreram uma lavagem cerebral tão grande até acreditarem que os negros são inferiores – e os brancos superiores – e que devem até mesmo violar e mutilar os corpos que Deus criou para tentar parecer 'bonitos' pelos padrões dos brancos. Assim como para qualquer mulher negra, digo ao homem negro que se dessem ao cérebro em sua cabeça só a metade da atenção que dão aos seus cabelos, estariam mil vezes mais humanos." (MALCOLM X)
 
 

« Il faut savoir que l’adversaire vous tue intellectuellement, il vous tue moralement, avant de vous tuer physiquement. Mais c’est de cette manière que l’on a supprimé des groupes entiers. On vous nie en tant qu’être moral. On vous nie en tant qu’être culturel. On ferme les yeux, on ne voit pas les évidences. On compte sur votre complexe, votre aliénation, sur le conditionnement, les réflexes de subordination, et sur tant d’autres facteurs de ce genre. Et si nous ne savons pas nous émanciper d’une telle situation par nos propres moyens, mais il n’y a pas de salut […] On mène contre nous le combat le plus violent, plus violent même que celui qui a conduit à la disparition de certaines espèces. » — com Sall El Bechir e EL Bechir Sall.

 

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"Você deve saber que o inimigo te mata intelectualmente, moralmente. Ele o atinge antes de matá-lo fisicamente. Mas é desta forma que conseguem exterminar grupos inteiros. Você se nega por via moral. Você se nega como cultural. Você fecha os olhos, você não consegue ver o óbvio. Contamos com a sua estância, sua alienação, embalagem, reflexos subordinação e muitos outros fatores. E se não podemos nos livrar de tal situação por conta própria, mas não há salvação [...] Ele lidera a luta contra nós, o mais violento, mais violento como o que levou à desaparecimento de certas espécies.


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Durante as condições de vida que os brancos submetiam aos não-brancos, no período da grande infâmia, como era conhecida a escravização; com toda a sorte de perversidades, de maneira vil, degradante e extremamente indigna; era natural a qualquer ser humano, o afloramento do instinto da autopreservação. Desse modo o escravizado assassinar seu algoz, era algo concreto e prosaico de ocorrer durante o lento trucidar de sua pseudo-vida.

Por isso, seus carrascos, obviamente brancos, quando não, a mando de algum branco; estavam  sempre tomando medidas preventivas quando na presença de um não-branco, com toda sorte de caprichos vis que o mercado lhe reservara como "direito".

Com a evolução do comércio, capitaneada pela revolução industrial, essa "reserva de direito" transformou-se em racismo desvairado, indiscriminado e inconsequente, que conhecemos hoje pelo nome de "mal-entendido", "brincadeirinha entre amigos" ou "...Eu tenho amigos negros também, portanto não posso ser racista...!!".

Com a modernidade, a TV começou então a formatar programas de humor, usando o negro como uma burlesca referência. O negro riu da brincadeirinha, os brancos riram mais ainda e o programa pegou.  Hoje temos um comércio vergonhosamente  lucrativo, onde se faz uso dessa figura que, outrora servia como objeto que andava e falava. Mas os intelectuais do riso da TV mostraram que fazem  diferença: a diferença é que hoje ele, o não-branco, não é mais objeto que anda e fala; ele também ri e faz rir. 

Como o não-branco, o quase-branco e o branco-negro até hoje não tiveram a oportunidade de lerem livros, de saber de sua história e de sua cultura, como os brancos sempre tiveram,   perderam suas referências e agora desconhecem os motivos da existência do racismo e de suas implicações. Portanto, não sabem de onde vem essa mágoa descabida dos brancos, em relação aos não-brancos, chegando a ponte de duvidar de tanto rancor no coração daqueles que o condenam por não ser branco. Além de não saberem, porque são motivos de piadas tão afetivas.
 
Lamentavelmente, a assinatura da famigerada lei áurea, assim como a ineficácia de qualquer lei redigida pela elite que tudo sabe, só fez do não-branco uma figura arquetípica, onde é depositado todo o ódio inconsciente advindo dessa "reserva de direito" concedida e reconhecido pelo código de leis ágrafas do social. Lei essa, como dito, redigida pela elite financeira, assim como continua perpetuamente a redigi-las na atualidade.  

Mas nossa terra tem Palmeiras, Corinthians e fluminense. Além da Mangueira, Portela e Vai-vai... Nossas vidas mais rancores, samba, novela e futebol.  
Nossos negras, pós-modernas, de muitas cores e sem caderno, hoje não mais se enxergam não. 
Se sair a rua hoje, só Colombinas encontro lá, pois minha terra tem crioulas qu'invisíveis ainda estão a ficar. Só apararecendo na tela da TV pra rebolar.
Mas só sentimos essa mágoa, que é pro bem nos lembrar, que essa vida invisível, é tudo fruto de leituras de nos furtadas, pelas mãos do látego encravado, no coração da negralhada.

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Portanto, o eterno combate as cotas ou a qualquer elemento que venha a atentar contra essa lei da "reserva de direito", é fruto da falta de leitura ou de um benefício provido pela dita lei ao indivíduo em questão, seja branca, não-branca, quase-branca ou branca-negra. Enfim, esse processo acaba sendo um fator de busca desse indivíduo a si mesmo, saindo de sua não-história para tornar-se sujeito de sua própria história. 



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A princesa só

Era linda, era filha, era única. Filha de Rei. Mas de que adiantava ser princesa se não tinha com quem brincar?

Sozinha no palácio chorava e chorava. Não queria saber de bonecas, não queria saber de brinquedos. Queria uma amiga para gostar.

De noite o Rei ouvia os soluços da filha. De que adianta a coroa se a filha da gente chora a noite? Decidiu acabar com tanta tristeza. Chamou o vidraceiro, chamou o moldureiro. E em seguida mandou fazer o maior espelho do reino. E em silêncio, mandou colocar o espelho ao pé da cama da filha que dormia.

Quando a princesa acordou já não estava mais sozinha. Uma menina linda e única olhava surpresa para ela, os cabelos ainda desfeitos do sono. Rápido saltaram as duas da cama. Rápido chegaram perto e ficaram se   encontrando. Uma sorriu e deu bom dia. A outra deu bom dia sorrindo.

- Engraçado – pensou uma – a outra é canhota. E riram as duas.

Riram muito depois. Felizes juntas, felizes  iguais. A brincadeira de uma era a graça da outra. O salto de uma era o salto da outra e enquanto uma cansava a outra dormia.

O Rei, encantado com tanta alegria, mandou fazer brinquedos novos que entregou a filha numa cesta. Bichos, bonecas, casinhas e uma bola de ouro. A bola no fundo da cesta. Porém tão brilhante que foi o primeiro brinquedo que escolheram.

Rolaram com ela no tapete, lançaram na cama, atiraram para o alto. Mas quando a princesa resolveu joga-la nas mãos da amiga, a bola estilhaçou jogos e amizade. Uma moldura vazia, cacos de espelho no chão. A tristeza pesou nos olhos da única filha do Rei. Abaixou a cabeça para chorar. A lágrima inchou, já ia cair quando a princesa viu o rosto que tanto amava, não um só, mas tantos rostos de tantas amigas. Não na lágrima que logo caiu, mas nos cacos todos que cobriam o chão.

- Engraçado, são todas canhotas – pensou.

Riram por algum tempo depois. Era diferente brincar com tantas amigas. Agora podia escolher. Um dia escolheu uma e logo se cansou. No dia seguinte preferiu outra e esqueceu dela logo em seguida. Depois outra e mais outra. Até achar que todas eram poucas. Então pegou uma e jogou contra a parede e fez duas. Cansou das duas, pisou com o sapato e fez quatro. Não achou mais graça nas quatros, quebrou com o martelo e fez oito. Irritou-se com as oitos, partiu com uma pedra e fez doze. Mas duas eram menores que uma, quatro menor que duas, oito menor que quatro, doze menor que oito.

Menores, cada vez menores.

Tão menores que não cabiam mais em si, pedaços de amigas com as quais não se podia brincar. Um olho, um sorriso, um lado de nariz. Depois nem isso, somente pó de amigas espalhadas pelo chão.

Sozinha outra vez a filha do Rei.

Não queria saber de bonecas, não queria saber de brinquedos.

Saiu do palácio e foi correr no jardim para cansar a tristeza.

Correu, correu, correu e a tristeza continuava com ela. Correu pelo bosque, correu pelo prado, parou a beira do lago. No reflexo da água amiga esperava por ela.

Mas a princesa não queria uma única amiga, queria tantas, queria todas aquelas que tinha tido e as novas que encontraria. Soprou a água. A amiga encrespou-se, mas continuou sendo um. Atirou-lhe uma pedra. A amiga abriu-se em círculos, mas continuou sendo uma.

Então a linda filha do Rei atirou-se na água de braços abertos, estilhaçando o espelho em tantos cacos, tantas amigas que foram afundando com ela, sumindo nas pequenas ondas com que o lago arrumava sua superfície.

 

Do livro “uma idéia toda azul” de Marina Colasanti.

    

 

 

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"Às vezes o espelho aumenta o valor das coisas, às vezes anula. Nem tudo o que parece valer acima do espelho resiste a si próprio refletido no espelho. As duas cidades gêmeas não são iguais, porque nada do que acontece em Valdrada é simétrico: para cada face ou gesto, há uma face ou gesto correspondido invertido ponto por ponto no espelho. As duas Valdradas vivem uma para a outra, olhando-se nos olhos continuamente, mas sem se amar." (Italo Calvino)

"... E a mulher criou o espelho à sua imagem e semelhança.”... E assim, o mundo transformou-se no espelho de muitas Alices e Brancas-de neve que, como Narciso, perdem-se na busca de sua própria imagem.

Afogam-se na tela da TV, onde ela nunca se vê; nas capas das revistas que aparece na crista; numa total imersão no mundo virtual, ignorando todo o mal.

Amanda Reis entrou nesse espelho, se escondendo do passado, de suas raízes, de sua história que a perseguia sem trégua, apesar da cor de sua pele.

Ela segue em sua busca pelos labirintos de espelhos, estrategicamente colocados pela mídia, a fim de encontrar sua face perdida; Descobri-la é descobrir-se.

Portanto, tornou-se inevitável quebrar esse espelho, transgredindo o labirinto, para fazer sua própria sorte.

Assim, ela busca embevecida e as vezes freneticamente, mergulhar nas águas de Narciso, para sair do próprio espelho, quebrando todos os quebrantos

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Os generosos mercadores portugueses deram duas belíssimas opções aos autóctones, logo que desembarcaram em Terras brasilianas: Trocar seus vastos territórios por lindos e brilhantes espelhos ou por suas próprias vidas. Desde então as crioulas e crioulas tupiniquins sobreviventes vem se mirando no reflexo desses espelhos-presentes de grego português.

 

Assim, suas vidas não se perderam; apenas foram imersas no reflexo de sua própria imagem, formatada na trágica generosidade dos mercadores d’aquém-mar. Agora vivem e se alimentam da projeção de liberdade proporcionada por essa imagem. Liberdade esta, que se tornaram fantasmas de ébanos, em centenas de vultos negros, Zumbis e N´zingas.

 

Seus cabelos refletidos, ora negros, ora loiros, encaracolados e lisos, crespos e sedosos e de cores mergulhadas em profundas diversidades, se misturam na face do expectador, confundindo seu próprio reflexo e embaçando seus olhos que miram o vento Sul, vindo com os Tumbeiros dos Portos da Ilha de Goré detrás do espelho d'agua, acolhendo-o após cada mergulho em si. Assim, a alma negra revive saindo das profundezas desse espelho, após cair em si todas as vezes que alguém toca um tambor dentro de seu coração, anunciando a  existência de sua própria vida.

 

 

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No Brasil, nossa maior festa é uma festa negra: o CARNAVAL. A santa padroeira do Brasil é Negra: N. S. Aparecida. O Brasil é o segundo país com maior número de população negra no Mundo, ficando atrás somente da Nigéria; com o agravande de que a Nigéria é um dos países africanos que mais consomem cosméticos para embranquecer a pele. 

 

Os reflexos desse embranquecimento se mostra na saúde das nigerianas, que desenvolvem tumores e diversas complicações debilitantes. No Brazil, esses reflexos se mostram na formatação da personalidade do cidadão negro, que desvaloriza sua história, sua cultura e seus ancestrais, valorizando a cultura considerada como única e legitima. A cultura da branquitude.

 

Z

 

Apesar de sua história, de sua cultura e de suas raízes, o espelho da mídia preconiza as atitudes, gestos, discursos e o modus vivendi do cidadão de cor, para que ele possa orbitar nessa sociedade, mesmo sem ser assimilado como ser social.

 

Sem a comunidade o indivíduo fica sem um espaço para contribuir, sendo ela, a comunidade, o local onde o as pessoas compartilham seus dons e recebem as dádivas dos outros; é onde as pessoas cuidam uma das outras e realizam um objetivo específico ajudando os outros a realizarem seus propósitos.

 

 Ubuntu




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