Na tela da TV...
Na tela da TV...

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No burburinho do dia-a-dia, adentrando nos inúmeros estabelecimentos comerciais da urbi, observamos sobre os balcões da vida, que a informação é vendida de loja em loja, farmácias e shoppings, nas ruas, ônibus ou metrô; não importando onde, seu preço fixo sempre obedeceu a uma tabela flutuante.

Agora, com as tecnologias de informação e comunicação deletando a memória concomidadamente com o advento do tempo real. ou seja, mudando o passado com a mesma facilidade com dita o futuro, poucos sabem quanto custa às próprias custas, o saber de si, pois quanto maior o conhecimento, menor é a compreensão da própria existência. A carta magna da alforria, assinada com cifrões, fez a realidade do povo melanodérmico se resumir a números estatísticos.

Quantos preciosos zeros são preciso, para desprender-se desse pelourinho virtual,  tornado real pelos telespectadores, depois de assinada pelos reis Momo (deus da alegria) e komo (deus do caos) da mídia? O balconista emudece ante a questão que embranquece.

Espetáculos de dor e sofrimento, recorrentes nessa cidade de muitos risos e alegria, são oferecidos aos muito mais do que mil palhaços no salão; nessa cidade cheia de encantos mil, nesse país tropical abençoado por Deus, onde senhorio é o Diabo virtual, digitalizado pela mídia e remasterizado pela religião.

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Nossa mulata exonera, que já dançou inúmeras vezes nesta maravilha de cenário servida a milaneza a população burguesa, foi dispensada pela balconista, pois não possuía a cútis adequada a informação desejada. Mesmo assim nosso balcão de informação encontra-se aberto 24h para bem servi-la, nem é preciso que seja acessado, já que é onipresente; e ela nem percebe que faz parte de um big “Brother” a céu aberto e em tempo real, patrocinado por nosso telecapitalismo nas favelas cariocas.

Mediante a uma módica quantia, ela poderá escolher com garantia, um pouco de sabedoria pro seu dia-a-dia; tudo de acordo com seu biótipo, sua classe e etnia; autenticando sua superficialidade outorgada pela realidade virtual.

Criando assim, seu próprio clone, garantido por lei; lei do mercado, lei da oferta e procura, lei do cão, sendo mais um figurante dessa realidade virtual. Sua interatividade é Garantia na imersão total, numa rede onde ela não é espectadora e nem atriz; pois estará fora de cena, ela é obscena.  A própria informação é o vírus que garante já sua dança no salão da eterna festa, na maravilha do cenário deste país tropical abençoado por Deus.

As verdades mentidas, que são mentiras camufladas de inocência. Ou seja, verdades virtuais; têm seus preços fixados, mesmo que flutuante, no mercado de ações do poder; O veredicto é um só, uma vez lançada, ela nunca será desmentida. Sendo Portanto, credível, nunca poderá ser falsa.

Sendo totalmente imersa na realidade virtual, numa relação umbilical de liberdade simulada, onde as referências desaparecem, de forma bem sutil, atrás de cada imagem, efeitos especiais, textos recheados de superficialidades, redundâncias, pleonasmos e hipérboles, embarcando assim, na alucinação coletiva, como assinalaJean Baudrillar.

Assim, nossa lixeira de informação se afina com a lixeira da história; História essa, contada pela elite, que nos intoxicam com suas convenientes verdades, marcando seus gados, amarrados ao pelourinho digital do telecapetalismo.

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"E a mulher criou o espelho à sua imagem e semelhança." 

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"Às vezes o espelho aumenta o valor das coisas, às vezes anula. Nem tudo o que parece valer acima do espelho resiste a si próprio refletido no espelho. As duas cidades gêmeas não são iguais, porque nada do que acontece em Valdrada é simétrico: para cada face ou gesto, há uma face ou gesto correspondido invertido ponto por ponto no espelho. As duas Valdradas vivem uma para a outra, olhando-se nos olhos continuamente, mas sem se amar." (Italo Calvino)

"... E a mulher criou o espelho à sua imagem e semelhança.”... E assim, o mundo transformou-se no espelho de muitas Alices e Brancas-de neve que, como Narciso, perdem-se na busca de sua própria imagem.

Afogam-se na tela da TV, onde ela nunca se vê; nas capas das revistas que aparece na crista; numa total imersão no mundo virtual, ignorando todo o mal.

Amanda Reis entrou nesse espelho, se escondendo do passado, de suas raízes, de sua história que a perseguia sem trégua, apesar da cor de sua pele.

Ela segue em sua busca pelos labirintos de espelhos, estrategicamente colocados pela mídia, a fim de encontrar sua face perdida; Descobri-la é descobrir-se.

Portanto, tornou-se inevitável quebrar esse espelho, transgredindo o labirinto, para fazer sua própria sorte.

Assim, ela busca embevecida e as vezes freneticamente, mergulhar nas águas de Narciso, para sair do próprio espelho, quebrando todos os quebrantos

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Os generosos mercadores portugueses deram duas belíssimas opções aos autóctones, logo que desembarcaram em Terras brasilianas: Trocar seus vastos territórios por lindos e brilhantes espelhos ou por suas próprias vidas. Desde então as crioulas e crioulas tupiniquins sobreviventes vem se mirando no reflexo desses espelhos-presentes de grego português.

 

Assim, suas vidas não se perderam; apenas foram imersas no reflexo de sua própria imagem, formatada na trágica generosidade dos mercadores d’aquém-mar. Agora vivem e se alimentam da projeção de liberdade proporcionada por essa imagem. Liberdade esta, que se tornaram fantasmas de ébanos, em centenas de vultos negros, Zumbis e N´zingas.

 

Seus cabelos refletidos, ora negros, ora loiros, encaracolados e lisos, crespos e sedosos e de cores mergulhadas em profundas diversidades, se misturam na face do expectador, confundindo seu próprio reflexo e embaçando seus olhos que miram o vento Sul, vindo com os Tumbeiros dos Portos da Ilha de Goré detrás do espelho d'agua, acolhendo-o após cada mergulho em si. Assim, a alma negra revive saindo das profundezas desse espelho, após cair em si todas as vezes que alguém toca um tambor dentro de seu coração, anunciando a  existência de sua própria vida.

 

 

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No Brasil, nossa maior festa é uma festa negra: o CARNAVAL. A santa padroeira do Brasil é Negra: N. S. Aparecida. O Brasil é o segundo país com maior número de população negra no Mundo, ficando atrás somente da Nigéria; com o agravande de que a Nigéria é um dos países africanos que mais consomem cosméticos para embranquecer a pele. 

 

Os reflexos desse embranquecimento se mostra na saúde das nigerianas, que desenvolvem tumores e diversas complicações debilitantes. No Brazil, esses reflexos se mostram na formatação da personalidade do cidadão negro, que desvaloriza sua história, sua cultura e seus ancestrais, valorizando a cultura considerada como única e legitima. A cultura da branquitude.

 

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Apesar de sua história, de sua cultura e de suas raízes, o espelho da mídia preconiza as atitudes, gestos, discursos e o modus vivendi do cidadão de cor, para que ele possa orbitar nessa sociedade, mesmo sem ser assimilado como ser social.

 

Sem a comunidade o indivíduo fica sem um espaço para contribuir, sendo ela, a comunidade, o local onde o as pessoas compartilham seus dons e recebem as dádivas dos outros; é onde as pessoas cuidam uma das outras e realizam um objetivo específico ajudando os outros a realizarem seus propósitos.

 

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