Negra
Seu corpo, seus cabelos, sua cor, seus sorrisos, seus abraços que abraço...
Cor negra, Corpo forte, Cabelos Crespos...
Sorrisos amplos, abraços quentes...
Sua voz, sua face, seus olhares...
Seus andar, suas mãos, Seus requebros...
Voz de blues, face negra, olhar noturno...
Seus seios, peitos tamborilantes,
Minhas mãos que tamborilam na Música-dança
Que Se misturam na cumplicidade da celebração do corpo com o espírito.
Negra pele preta pele
Prata preta
Preta pele prata negra preta.
Prata preta, preta prata
Preta branca, bantu branca
Bantu preta, prata branca
Brinca prata preta, brilha
Brique banzo, banto bravo
Breque banzo, Bruto branco
Prata preta, brisa breve
Breque branco, Brilho Black...
"Um espelho não guarda as coisas refletidas." (Mario Quintana)
Os detentores do poder, desde sempre em qualquer contexto social, esforçam-se por obter a submissão voluntária, pacífica e convicta de seus subordinados, buscando o reconhecimento social de sua legitimidade.
A organização do espaço público de comunicação, não só em matéria política como também a econômica, cultural ou religiosa, faz-se hoje com o alheamento do povo, ou com a sua transformação em massa de manobra dos setores dominantes.
O espaço de comunicação social, deixa de ser público nos países ditos “democráticos”, com vistas a tornar-se objeto de oligopólio da classe empresarial, a serviço de seu exclusivo interesse de classe.
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"Às vezes o espelho aumenta o valor das coisas, às vezes anula. Nem tudo o que parece valer acima do espelho resiste a si próprio refletido no espelho. As duas cidades gêmeas não são iguais, porque nada do que acontece em Valdrada é simétrico: para cada face ou gesto, há uma face ou gesto correspondido invertido ponto por ponto no espelho. As duas Valdradas vivem uma para a outra, olhando-se nos olhos continuamente, mas sem se amar." (Italo Calvino)
"... E a mulher criou o espelho à sua imagem e semelhança.”... E assim, o mundo transformou-se no espelho de muitas Alices e Brancas-de neve que, como Narciso, perdem-se na busca de sua própria imagem.
Afogam-se na tela da TV, onde ela nunca se vê; nas capas das revistas que aparece na crista; numa total imersão no mundo virtual, ignorando todo o mal.
Amanda Reis entrou nesse espelho, se escondendo do passado, de suas raízes, de sua história que a perseguia sem trégua, apesar da cor de sua pele.
Ela segue em sua busca pelos labirintos de espelhos, estrategicamente colocados pela mídia, a fim de encontrar sua face perdida; Descobri-la é descobrir-se.
Portanto, tornou-se inevitável quebrar esse espelho, transgredindo o labirinto, para fazer sua própria sorte.
Assim, ela busca embevecida e as vezes freneticamente, mergulhar nas águas de Narciso, para sair do próprio espelho, quebrando todos os quebrantos.
Os generosos mercadores portugueses deram duas belíssimas opções aos autóctones, logo que desembarcaram em Terras brasilianas: Trocar seus vastos territórios por lindos e brilhantes espelhos ou por suas próprias vidas. Desde então as crioulas e crioulas tupiniquins sobreviventes vem se mirando no reflexo desses espelhos-presentes de grego português.
Assim, suas vidas não se perderam; apenas foram imersas no reflexo de sua própria imagem, formatada na trágica generosidade dos mercadores d’aquém-mar. Agora vivem e se alimentam da projeção de liberdade proporcionada por essa imagem. Liberdade esta, que se tornaram fantasmas de ébanos, em centenas de vultos negros, Zumbis e N´zingas.
Seus cabelos refletidos, ora negros, ora loiros, encaracolados e lisos, crespos e sedosos e de cores mergulhadas em profundas diversidades, se misturam na face do expectador, confundindo seu próprio reflexo e embaçando seus olhos que miram o vento Sul, vindo com os Tumbeiros dos Portos da Ilha de Goré detrás do espelho d'agua, acolhendo-o após cada mergulho em si. Assim, a alma negra revive saindo das profundezas desse espelho, após cair em si todas as vezes que alguém toca um tambor dentro de seu coração, anunciando a existência de sua própria vida.
No Brasil, nossa maior festa é uma festa negra: o CARNAVAL. A santa padroeira do Brasil é Negra: N. S. Aparecida. O Brasil é o segundo país com maior número de população negra no Mundo, ficando atrás somente da Nigéria; com o agravande de que a Nigéria é um dos países africanos que mais consomem cosméticos para embranquecer a pele.
Os reflexos desse embranquecimento se mostra na saúde das nigerianas, que desenvolvem tumores e diversas complicações debilitantes. No Brazil, esses reflexos se mostram na formatação da personalidade do cidadão negro, que desvaloriza sua história, sua cultura e seus ancestrais, valorizando a cultura considerada como única e legitima. A cultura da branquitude.
Apesar de sua história, de sua cultura e de suas raízes, o espelho da mídia preconiza as atitudes, gestos, discursos e o modus vivendi do cidadão de cor, para que ele possa orbitar nessa sociedade, mesmo sem ser assimilado como ser social.
Sem a comunidade o indivíduo fica sem um espaço para contribuir, sendo ela, a comunidade, o local onde o as pessoas compartilham seus dons e recebem as dádivas dos outros; é onde as pessoas cuidam uma das outras e realizam um objetivo específico ajudando os outros a realizarem seus propósitos.